Diretor do Centro Simon Wiesenthal em Israel, Efraim Zuroff, responsável pela
localização de Laszlo Csatary, fala da falta de esforço internacional
para caçar nazistas. E alerta: figura do velhinho inocente
não reduz a culpa de criminosos.
O criminoso de guerra nazista mais procurado do mundo, o húngaro Laszlo Csatary,
de 97 anos, foi finalmente preso nesta quarta-feira. Csatary
era o chefe de polícia do gueto judeu da cidade eslovaca
de Kosice, no qual 15.700 judeus foram assassinados ou levados
ao campo de extermínio de Auschwitz, e passou os últimos
17 anos vivendo tranquilamente em Budapeste, na Hungria.
Seu paradeiro foi descoberto há 10 meses pelo Centro Simon
Wiesenthal, que luta contra a impunidade dos perpetradores
do Holocausto. No último domingo, a entidade revelou ao mundo
onde o nazista se escondia - e a prisão dele foi efetuada
três dias depois. O diretor da entidade em Israel, Efraim
Zuroff, principal responsável pela descoberta do paradeiro
do nazista húngaro, falou ao site de VEJA sobre o processo
de busca e investigação que levou à captura de Csatary. E
reclamou da demora da polícia para capturar o criminoso de
guerra.
Leia também: 'Falta vontade política para condenar nazistas', diz entidade
Por quanto tempo esperaram por este
momento? Descobrimos há 10 meses que Csatary estava vivo
e morando em Budapeste. Tínhamos inclusive o endereço dele.
E por que levou tanto tempo para que
ele fosse localizado e preso? Simplesmente porque não há
esforço suficiente para tentar encontrar esses criminosos.
Muitos anos se passaram, e eles já estão muito idosos. Além
disso, muitos países não querem lidar com essa questão ou
passar pelo constrangimento de ter um nazista vivendo tranquilamente
em seu território. Não é algo agradável.
Acredita que Csatary enfrentará a Justiça húngara? Esperamos que sim. O primeiro
passo já foi dado. E os promotores definitivamente possuem
evidências suficientes contra ele para condená-lo.
Muitas pessoas acham que ele está velho demais para ser julgado. O passar do
tempo não diminui a culpa de criminosos, e a idade avançada
não deve proteger assassinos. A imagem de um velhinho dá
a impressão de que ele seja fraco. Mas essa mesma pessoa,
no ápice de seu poder físico, usou sua energia e força para
matar inocentes, entre eles mulheres e crianças. É o último
ser humano no mundo que merece simpatia.
E qual é a importância desse julgamento?
As vítimas dos nazistas merecem que criminosos como Csatary
sejam identificados e paguem pelo que fizeram de alguma forma.
Os julgamentos, mesmo tardios, também são importantes para
combater o discurso daqueles que negam o Holocausto.
Esta seria uma vitória do Centro Simon
Wiesenthal? Sem dúvida, é uma vitória tremenda para o Centro
e para mim pessoalmente. Fui eu quem fez a maior parte das
investigações sobre Ladislaus Csatary. A polícia húngara
apenas o prendeu. E não é a primeira vez que ajudo a encontrar
criminosos de guerra nazistas.
Vocês possuem informantes pelo mundo
para ajudar nessa busca? O Centro Simon Wiesenthal oferece
dinheiro em troca de informações, e essa oferta é aberta
a qualquer pessoa, de qualquer parte do mundo. Se alguém
nos entrega dados que levam à prisão e ao julgamento desses
criminosos, ele será pago por isso.
Alguma vez vocês receberam alguma
informação relacionada ao Brasil? Sim, recentemente recebemos
uma informação interessante vinda do Brasil, que poderia
levar à descoberta de uma rede nazista no país. Por fim,
descobrimos que o informante estava equivocado, o que é normal.
Mas não descartamos que haja criminosos nazistas vivendo
no Brasil.
O Centro Simon Wiesenthal recebe ajuda
da Interpol, por exemplo? Não, nossa atuação é independente.
Após as investigações, muitas vezes faço contato com a polícia
do local em que se encontra o suspeito. Em outras vezes,
eu mesmo vou até a cidade para conferir a informação. Depende
da situação.
No caso de Ladislaus Csatary, o senhor
teve ajuda da polícia de Budapeste? Ajuda? Esperei 10 meses
para que o prendessem...
Os governos geralmente colaboram com
suas investigações? Cada governo age de uma forma, mas pouquíssimos
nos ajudam de fato. Isso que eu faço deveria ser o trabalho
deles.
Confira a lista atualizada dos nazistas
mais procurados:
Gerhard Sommer
Gerhard Sommer (nascido em 1919) era o segundo tenente da SS, a temida polícia
nazista. A divisão que comandava foi responsável pelo massacre
de 560 civis na aldeia italiana Sant'Anna di Stazzema, em
12 de agosto de 1944.
A simpatia pelo regime nazista começou aos 12 anos, quando
se tornou membro da Juventude Hitlerista, onde recebeu o
título de líder juvenil. Aos 18 anos, ingressou no Partido
Nazista e nas fileiras da SS. No início da II Guerra Mundial
lutou nos Balcãs e na Ucrânia, sendo condecorado com a Cruz
de Ferro, principal honraria de guerra do regime nazista.
Sommer foi julgado em 2005 por um tribunal militar em La
Spezia, Itália, e condenado à prisão perpétua pelo "assassinato
contínuo e cruel" dos 560 moradores - destes 110 eram crianças - de Sant'Anna di Stazzema. Desde
2002, ele está sob investigação na Alemanha, mas nenhuma
acusação criminal ainda foi instaurada.
Desde 2007, está em um lar de idosos no estado de Hamburgo.
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