Após 62 anos do fim da 2ª Guerra Mundial (1939-1945), o Centro
Simon Wiesenthal oferece recompensa de 310 mil euros [R$ 832
mil] para quem ajudar a encontrar o austríaco Aribert Heim, que
foi médico em três campos de concentração durante o Holocausto.
Ele é acusado do assassinato de centenas de prisioneiros com injeções letais
nos campos de concentração de Sachsenhausen e Buchenwald --ambos
na Alemanha-- e Mauthausen, na Áustria.
A informação foi divulgada nesta terça-feira durante
entrevista coletiva em São Paulo com o americano Efraim Zuroff,
diretor do escritório israelense e principal autoridade em criminosos
de guerra nazistas do centro, uma organização judaica de direitos
humanos.
"Sei que vocês se perguntam por que
fazemos isso depois de tantos anos. (...) Mas a passagem do tempo
não diminui a culpa dos assassinos", afirmou Zuroff, ao iniciar a coletiva.
"Se uma pessoa, que Deus não queira, matasse sua avó e só fosse encontrada anos
depois, não creio que o fato de ela ser idosa iria afetar seu desejo
de que ela pagasse pelo crime", disse.
De acordo com o diretor, as verbas oferecidas como recompensa pela prisão de
Heim são provenientes do governo alemão, do governo austríaco e
de doações particulares.
A entrevista foi realizada para divulgar o início
da fase sul-americana da Operação Última Chance, que visa encontrar
os últimos criminosos de guerra nazistas ainda vivos na América
do Sul.
Apesar das décadas após os crimes, entre abril
de 2006 e março de 2007 o centro fez com que 21 criminosos de guerra
fossem condenados. Em 14 países, 1.019 pessoas são investigadas
atualmente. "Sabemos que temos pouco tempo, mas isso tem de ser feito", explica Zuroff.
O programa começou em 2002 na Lituânia, Letônia
e Estônia, e oferece US$ 10 mil [cerca de R$ 18 mil] por informações
que facilitem a localização, julgamento e condenação de criminosos
nazistas em qualquer lugar do mundo.
De acordo o diretor americano, países como Alemanha,
EUA, Canadá, Polônia e Lituânia têm escritórios oficiais para investigar
criminosos nazistas.
A operação tem como principal objetivo encontrar
criminosos de guerra até então desconhecidos.
Nazistas no Brasil
Segundo Zuroff, levando em conta a história do
Brasil e a grande imigração depois da Segunda Guerra --especialmente
da Alemanha-- é "mais do que provável" que algumas dessas pessoas ainda estejam vivas e possam ser julgadas.
"Faço questão de divulgar o número
no Brasil para qualquer um que tenha informações sobre criminosos
de guerra nazistas". Além do número de telefone (0xx11- 8408-7422), há um e-mail ([email protected])
para contato, e também o site (www.operationlastchance.org)".
O americano cita ainda quatro casos de nazistas
de alto escalão encontrados no Brasil, entre eles o do médico alemão
Joseph Mengele.
Apelidado de "Anjo da
Morte", ele era o responsável por determinar quem seria exterminado e quem seria submetido
a trabalhos forçados no campo de concentração de Auschwitz, na
Polônia. Também fez experiências com presos, entre elas a de injetar
substâncias químicas nos olhos de crianças para ver se mudariam
de cor.
Após fugir da Alemanha para a Argentina, Mengele
veio ao Brasil, onde morreu de infarto quando nadava no mar em
Bertioga, em 1979.
Falta de cooperação
Anualmente, o escritório do centro em Israel envia
um questionário a todos os governos que possam ter alguma relação
com a questão de criminosos nazistas.
O documento questiona se os países encontraram,
condenaram ou investigam nazistas.
Segundo Zuroff, o questionário enviado ao Brasil,
através da Embaixada em Tel Aviv, nunca foi respondido.
Ele diz ainda que nenhum país da América do Sul
tem uma instituição do governo voltada para a questão, e nunca
realizou uma operação ampla para investigar quantos nazistas entraram
no país e quantos ainda estão vivos.
Há 27 anos em busca de nazistas pelo mundo, Zuroff
faz uma ressalva: após a transição para a democracia na América
do Sul, alguns criminosos foram extraditados -- um alemão que foi
extraditado do Brasil, outros quatro da Argentina, e um da Bolívia.
Em todos os casos, o centro foi responsável pela
localização dos nazistas.
folha.uol.com.br
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